Brasil deveria investir em minerais considerados estratégicos para produção de componentes eletrônicos como lítio e níquel
Ao que tudo indica, o portfólio de commodities minerais vai se diversificar muito nos próximos anos. Além do minério de ferro, que corresponde a 17% das exportações nacionais em 2020 e do ouro, dois produtos tradicionais da cesta nacional e que já têm produção consolidada no país, tendências de industrialização de países em desenvolvimento e mudanças conceituais de produtos, como é o caso do veículo elétrico apontam para um aumento de demanda por de lítio, grafita, terras raras, nióbio, vanádio, níquel, cobalto e cobre, nos próximos anos.
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O painel “Mercado de Commodities Minerais”, reuniu especialistas que alertaram para um atraso do Brasil em relação à exploração desses produtos. Segundo o gerente regional da Roskill na América Latina, Marcio Goto, enquanto o mundo inteiro está à procura de plantas para instalar em seus territórios para produzir baterias para veículos, equipamentos, componentes de sistemas de armazenamento de energia ou eletrônicos, para ter uma reserva interna desses produtos considerados estratégicos, as iniciativas do gênero no Brasil e também na América Latina seguem restritas. “Não vai sobrar bateria para exportação. A demanda por lítio atualmente está na faixa das 500 mil toneladas e isso deve quintuplicar até 2030, o que demonstra um crescimento projetado fantástico”, avalia.
A sênior vice-presidente do grupo de Finanças Corporativas da Moody’s, Barbara Matos, avaliou a demanda por minerais permanecerá aquecida devido à recuperação da atividade econômica mundial, projetada para 2022. Para o Brasil, o minério de ferro vai acompanhar esse movimento devido à forte resultado da China, que projeta crescimento de 8,5% em 2021 e 5,5% no próximo exercício. No entanto, os riscos são novas ondas de Covid-19, que podem comprometer os resultados almejados. “Mas no médio prazo espera-se uma moderação com declínio gradual dos preços do minério de ferro nos próximos anos”, aponta.
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Exploração mineral
A Agência Nacional de Mineração (ANM) apresentou, no IX SIMEXMIN, um projeto de pesquisa da sua Matriz de Relacionamento, que se baseia em codificações nacionais e internacionais da cadeia da indústria extrativa e mineral brasileira para relaciona setores econômicos com a demanda por minerais.
Segundo o economista da Agência e responsável pelo projeto, Mariano Laio de Oliveira, a próxima fase do estudo deve dar origem ao Observatório da Economia Mineral, em parceria com o IPEA. “Temos desenvolvido com a empresa de TI, uma ferramenta para viabilizar a consulta para usuários, com informações fidedignas da economia, mercado de trabalho e outras que permitem retornar até o início da implementação da CNAE, em 1997. Nosso objetivo é criar uma matriz de referência metodológica para parceiros da cadeia produtiva do setor”, explica.
O coordenador operacional Agência para o Desenvolvimento e Inovação do Setor Mineral Brasileiro (ADIMB), o geólogo Gustavo Mello, apresentou dados atualizados do Panorama da Exploração Mineral do Brasil. Iniciado em 2012, o estudo tem como objetivo estabelecer onde estão concentradas as atividades de pesquisa mineral para as principais commodities mineral.
Inicialmente o estudo focou nos projetos no Brasil de empresas listadas em bolsas de valores com atuação junto ao setor mineral internacional. Numa segunda fase, foram coletadas informações de projetos com empresas que não negociavam ações em bolsas de valores. Entretanto, segundo o palestrante, era evidente que tínhamos apenas uma visão parcial das atividades de exploração mineral em nosso país.
Resolvemos então analisar o banco de dados da ANM e trabalhar com os títulos relacionados com a fase de exploração mineral, dos cerca de 215 mil títulos listados no banco de dados da ANM, um pouco mais de 100 mil se encontram nessa fase”, explica. Aplicando ferramentas de geoprocessamento e técnicas estatísticas foram elaborados mapas de densidade de exploração mineral ferro manganês, alumínio, níquel, zinco, estanho e cobre.
Os próximos passos são produzir mapas para outras commodities, analisar comparativamente as áreas dos polígonos das licenças de exploração e fazer a integração com dados e mapas de geologia econômica. Acreditamos que o resultado final desse estudo irá democratizar o acesso à informação, auxiliando gestores, a pesquisa acadêmica e o setor privado”, conclui.
O painel foi mediado por Cinthia Rodrigues, do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) e pelo presidente da ABPM, Luiz Maurício Azevedo.
Padronização internacional é estratégia para atrair investidores e investimentos a plantas minerais
Bastante aguardada pelo mercado, a resolução da Agência Nacional de Mineração (ANM) que disciplina a classificação com base em padrões internacionalmente aceitos para a confecção da Declaração de Resultado de Exploração, Recursos e Reservas Minerais, está em fase de apreciação pela Procuradoria Federal, último passo antes da aprovação final pela Diretoria Colegiada da instituição, segundo informação do diretor, Tasso Mendonça Júnior. Ele foi um dos palestrantes do painel Avaliação Econômica de Projetos: Declaração de Recursos e Reservas, no IX Simexmin.
Sem adiantar datas, ele ressaltou que a convergência desses padrões já existe e o desenvolvimento de outros, no futuro, será guiado pelo modelo do Comitê Internacional de Normas de Declaração de Recursos Minerais (CRIRSCO), consórcio de organizações nacionais que atuam para que definem padrões internacionalmente aceitos nos conceitos de certificação de resultados de pesquisa e de recursos e reservas, ao qual o Brasil se filiou em 2015, por meio da Comissão Brasileira de Recursos e Reservas (CBRR), entidade privada sem fins lucrativos que congrega 90% do PIB da mineração nacional. “As esferas pública e privada precisam se unir para gerar um padrão único no Brasil, para reportar resultados exploratórios de minerais alinhados com as melhores práticas”, afirma.
Essa nova regulamentação visa aumentar a atratividade do setor mineral para investidores, por meio de melhoria da qualidade técnica dos relatórios analisados pelo Sistema Brasileiro de Recursos e Reservas Minerais (SBRR). Convertidos em relatórios e enviados para a ANM, os documentos são usados para a concessão de licenças várias licenças.
Segundo o diretor da Comissão Brasileira de Recursos e Reservas (CBRR), Alessandro Medeiros Silva, a criação de um padrão internacional é uma resposta do setor produtivo mineral a uma demanda de mercado e tem como base princípios como transparência, materialidade e competência. Ele destacou, ainda, a importância da qualificação dos profissionais responsáveis pela elaboração da Certificação de Resultados de Pesquisa e de Recursos e Reservas. No caso do Brasil, eles devem ter 10 anos de atuação no setor mineral, 5 de trabalho na atividade e outros 3 em posição de responsabilidade.
Em sua fala, o diretor técnico da Geossistema, Alexandre Souza, destacou que, além da padronização dos conceitos, o setor mineral também necessita incluir os princípios de ESG (ambiental, social e governança, em português), como fator modificador da declaração, principalmente ao tratar dos riscos inerentes da operação. “É preciso informar de uma forma realista, clara, sem excessos com informações permanentes e realisticamente assumidas para o público que vai tomar decisões de investimentos”, ressalta.
Os moderadores do painel foram o diretor de Exploração e Projetos Minerais da Vale/CBRR, Edson Ribeiro e a diretora executiva da GeoAnsata, Glaucia Cuchierato.
Projetos reafirmam grande potencial mineral do Brasil
Além de vasto conteúdo técnico, o Simexmin 2021 também abriu espaço para a apresentação de novos projetos de mineração no país. O painel “Desenvolvimento e Expansão de Projetos” demonstrou que a pesquisa das áreas tem sido uma prática comum entre as empresas do setor.
A Equinox Gold, grupo que teve origem em 2017, quando ocorreu a aquisição do Depósito de Piaba, opera 5 minas no continente americano, das quais duas estão no Brasil. Há, ainda, duas novas, uma no Canadá e outra na Bahia. Segundo o diretor da empresa no Brasil, Carlos Roberto Paranhos Ferreira Júnior, a perspectiva de produção em três anos é superar 1 milhão de onças.
Na Mina de Piaba, depósito de classe mundial onde há cerca de 1 milhão de onças classificadas como reservas que foi comprada em 2017, a empresa tem feito diversos estudos geológicos, geofísicos e geoquímicos para conhecer o real potencial da área, localizada no noroeste do Maranhão, onde há mais de 200 ocorrências de lavras garimpeiras. A Equinox tem interesse muito forte na operação de subsolo, após a identificação de zonas de alto teor que interceptam a área mineralizada de 2,3 km. Para tanto, está na fase de sondagem para subsidiar essa operação. “A cada dia aprendemos mais com a geologia do noroeste do Maranhão”, afirma.
O gerente de Geologia da Amarillo Gold, Luiz Carlos da Silva, apresentou o projeto Lavras do Sul, que ainda está em maturação. Próximo à fronteira com o Rio Grande do Sul e distante 320 Km de Porto Alegre, a planta está dentro do Cinturão Vila Nova. No momento, a companhia se prepara para iniciar a operação de outra planta, Mara Rosa, em Goiás, a partir de abril de 2022. A mina tem 1 milhão de onças de reserva minerável.
Logo depois, concentrará esforços no Lavras do Sul, onde há 22 ocorrências de ouro em uma faixa de 10 km. Algumas já conhecidas e outras em estudo. Entre os principais alvos da Amarillo está o Matilde. “O trabalho de exploração na área tem rendido surpresas agradáveis e, embora não seja intenso, o programa de sondagem já realizado em vários alvos contabiliza, apenas em 2021, 8,8 mil metros e deve chegar a 11,8 mil até o final do ano na região”, informa.
Em Carajás, o Projeto Jaguar da Centauros Brasil Mineração Ltda. tem como foco a exploração do níquel. Segundo o diretor da empresa, Roger James Fitznardinge, atualmente a mineradora tem sete sondas no local e um depósito híbrido com potencial de expansão para o leste de Carajás. “Existe quatro depósitos subterrâneos. Esperamos poder aumentar a produção perfurando mais recursos que possam ser processados na nossa unidade de beneficiamento”, avalia.
O painel foi mediado pela doutora em Geologia e professora da UNB, Adalene Silva, e o diretor da Organização Mineronegócio, Erasmo de Almeida.
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