A Mineração 4.0, ou seja a adoção de tecnologias como machine learning e realidade aumentada na manufatura, é realidade em vários segmentos da indústria de mineração no Brasil vem crescendo cada vez mais.
Algumas empresas já possuem centros direcionados para estudar o uso da Mineração 4.0 e Inteligência Artificial (AI) na melhoria da manutenção das ferrovias que transportam seus minérios. Um dos ganhos é a redução dos riscos de paralisação dos trens ao se ter uma manutenção preditiva ainda mais precisa. Com isso, ganha-se em segurança e em negócios, pois um trem de carga viajando no horário previsto significa a entrega do ferro brasileiro do outro lado do mundo, em siderúrgicas da China e de outros países. Lembrando que há navios enormes entre os dois lados e a logística tem que funcionar corretamente.
Plantas de papel e celulose, por exemplo, possuem válvulas inteligentes com sensores que antecipam falhas e permitem intervenções remotas. Em telecomunicações, recursos de Inteligência Artificial (AI) evitam a queda de conexão ao detectar padrões fora do comum nas redes.
E como a mineração no Brasil tem reagido ao avanço do tsunami digital de dados? Para alguns especialistas, a Mineração 4.0 já acontece na prática, com a integração cada vez maior de dados da mina com informações da planta de processamento e mesmo com inputs do transporte de minério lá no porto ou ao longo da ferrovia. Soa como uma utopia? Decididamente, não é.
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A tecnologia como fator de revolução
Outros recursos como a Internet das Coisas (IoT) já fazem parte de usinas de processamento de minérios, inclusive no Brasil.
A aplicação de sensores em equipamentos como britadores permite que a máquina se autorregule, atingindo capacidades máximas de produção sem afetar a segurança do processo. Fora do Brasil, o monitoramento remoto de britadores – a partir do sensoriamento da máquina e envio de dados via rede satelital para um centro de monitoramento – também antecipou falhas ao identificar casos reais de anomalias, como o vazamento no sistema hidráulico com uma semana antes de o problema ocorrer.
Nós começamos a falar da ferrovia da Vale, que praticamente é a etapa final do despacho do minério de ferro antes do embarque nos navios transoceânicos, mas a jornada começa antes e também pode ser digitalizada.
Imagine se pudéssemos acompanhar o minério desmontado, ou seja, que foi detonado para ser carregado até a planta durante todo o processo de britagem.
E mais: e se o gerente da usina de processamento soubesse que o minério que acaba de entrar na usina tem um alto teor e que pode ser processado usando menos energia e outros insumos? Acredite isso é possível e o nome é geometalurgia automatizada.
Geometalurgia automatizada, uma tecnologia do futuro sendo utilizada hoje
Ao ser automatizada, estamos falando na disponibilização dessas informações em tempo real. Parte do processo, acontece com uso de etiquetas inteligentes – smart tags em inglês – que funcionam como sensores móveis e que podem acompanhar o minério desde que ele foi desmontado. São dispositivos resistentes, rastreados via identifi cação por rádio frequência (RFiD) tanto na mina como na planta.
Ao entrar na planta, as smart tags – entregam o ouro: sabemos que tipo de material será processado e podemos corrigir os parâmetros de processamento de acordo com eles. Não há mágica.
Vamos dar um salto ainda maior. Considere que a toda a viagem do minério desde a mina até a planta foi documentada pelos dados das etiquetas inteligentes e pelas informações de automação. Percebe que temos um universo de dados reais enorme?
Com plataformas de softwares avançadas, é possível simular como seria o processamento futuro da usina e quais ações seriam as mais indicadas para aumentar o seu tempo de vida. No caminho inverso, a simulação em computador pode indicar melhorias no processo de desmonte, onde tudo começa.
INFLUÊNCIA NO PIB E NA ECONOMIA BRASILEIRA
O Produto Interno Bruto (PIB) conta com números interessantes quando voltamos nossos olhos para a mineração. Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, em 2017, o setor teve 4,69% de participação em todas as riquezas geradas no país. O número representa um aumento em relação aos dois anos anteriores, já que em 2015 a participação foi de 4,02% e em 2016 foi de 2,68%.
Em relação às exportações, em 2018 as vendas do setor mineral somaram 49,7 bilhões de dólares e as importações 26,4 bilhões de dólares. Como o valor exportado total foi de 239,5 bilhões de dólares, o segmento mineral respondeu por quase 21% da balança comercial.
Os impactos na economia não decorrem apenas do PIB e das vendas diretas já que também existe a chamada Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), concedida às cidades e regiões onde ocorre a atividade mineral. Em 2017, o total arrecadado ultrapassou R$ 1,5 bilhão. Esse valor serve para custear a infraestrutura pública (como hospitais, vias municipais e serviços essenciais) e afeta, positivamente, a economia.
GERAÇÃO DE EMPREGOS DIRETOS E INDIRETOS
Já que a atividade tem tanta influência em outros setores e na economia, outro destaque da mineração no Brasil tem a ver com a geração de empregos diretos e indiretos. Em 2017, o setor gerou 733 mil empregos diretos.
Ao total, a área é responsável por mais de 2,2 milhões de empregos indiretos. O desenvolvimento do setor, portanto, representa a criação de oportunidades e o crescimento da população economicamente ativa.
As tendências para 2020 e o futuro
Para vencer esses (e outros) desafios, o segmento conta com o apoio de algumas tendências e perspectivas. Elas são voltadas para os próximos anos e até mesmo décadas. Graças a essas soluções, é possível começar a vencer alguns desafios e aumentar o nível de resultados.
Na sequência, veja como promete ser o futuro da mineração e suas maiores novidades.
MINERAÇÃO 4.0
A indústria 4.0 é um conceito que envolve a atividade industrial ligada ao uso ampliado e conectado da tecnologia. Como essa é uma das tendências mais evidentes para os próximos anos, há também o conceito de mineração 4.0.
Embora seja uma área muito tradicional, o setor caminha para a era digital e para a maturidade tecnológica. A ideia é implementar a tecnologia e a automação de tarefas em diversas etapas do setor mineral. Com o uso de máquinas autônomas, Big Data, Business Intelligence (BI), Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas (IoT) e outras alternativas, o segmento ganha contornos modernos e automatizados.
O principal objetivo é aumentar a segurança e tornar o ambiente produtivo mais adequado para os colaboradores. As atividades mais complexas ou de maior risco passam a ser executadas por máquinas, o que protege os colaboradores e ainda aumenta a produtividade.
MÁXIMO APROVEITAMENTO NAS ETAPAS
Já que a sustentabilidade é um dos desafios ativos, é interessante poder contar com novos métodos de utilização dos recursos. Nesse sentido, uma das tendências para os próximos anos consiste no máximo aproveitamento de cada etapa.
Os finos de minério, por exemplo, podem ser utilizados na pelotização, como uma solução para diminuir as perdas. Também há a tendência de bom emprego da água, de energia elétrica e assim por diante. A ideia é obter o máximo de resultados em cada fase, o que permite aumentar a lucratividade e o retorno e diminuir os impactos ambientais.
REUTILIZAÇÃO DE REJEITOS
Nessa mesma vertente, o setor tem buscado meios de recuperar os insumos e até os rejeitos. Com máxima utilização dos elementos e redução no volume de perdas, é possível garantir o melhor desempenho em todos os níveis.
Hoje, há pesquisas ligadas à biotecnologia e que envolvem o uso de bactérias para realizar uma oxidação controlada e que evita a poluição, por exemplo. Também existe a ideia de reciclagem de rejeitos, inclusive como solução ao descarte. Assim como a siderurgia favorece a transformação de escória em cimento, o setor mineral pode criar matérias-primas a partir dos resultados de processos de exploração e beneficiamento.
ELIMINAÇÃO DO USO DE BARRAGENS
Como citado anteriormente, a segurança e a proteção ao meio ambiente são desafios e fatores primordiais na atividade atual e para os próximos anos. Por isso, a gestão de rejeitos é essencial e terá cada vez mais importância.
Além da máxima utilização desses componentes, também há uma proposta ligada à eliminação do uso de barragens. A intenção é que o setor, em determinado momento, já não dependa dessas estruturas. Há alguns avanços nesse sentido com novas propostas para que as empresas acompanhem as mudanças atuais. Para os próximos anos, a tendência é que o processo de eliminação seja acelerado.
O segmento de mineração no Brasil está em expansão e em transformação para atender aos novos desafios. Como é uma das áreas mais importantes para a economia, especialmente em termos internacionais, a atividade continuará a ter relevância e, por isso, merece sua atenção!