Ativistas em Gana denunciam a mineração ilegal de ouro, que contamina rios e ameaça o abastecimento de água. O novo governo enfrenta pressão para agir
Em setembro, quando surgiram notícias de que a Agência de Água de Gana poderia interromper o abastecimento em diversas regiões devido à contaminação de rios causada por mineração em pequena escala, o ativista Oliver Barker Vormawor sentiu que deveria agir.
No mesmo mês, Vormawor liderou protestos em Accra, capital de Gana, ao lado de bolsas de manifestantes, acusando o governo do então presidente Nana Akufo-Addo de inércia diante de uma crise ambiental iminente.
A tentativa foi iniciada por mudanças antes das eleições gerais de dezembro. Contudo, ao invés de serem ouvidos, Vormawor e outros manifestantes foram presos sob acusações de reunião ilegal, permanecendo encarcerados por semanas.
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Embora o governo de Akufo-Addo tenha sido derrotado nas urnas, ativistas como Vormawor têm pouca confiança de que o novo presidente, John Mahama, tomará medidas efetivas para conter a crescente poluição dos rios e solos do país.
O galamsey e seus ataques devastadores
Gana, anteriormente conhecida como “Costa do Ouro”, enfrenta a pressão crescente da mineração em pequena escala.
Grande parte desta atividade, conhecida como “galamsey” – termo que significa “coletar e vender” –, abrange tanto práticas ilegais quanto operações licenciadas realizadas de forma insustentável.
A mineração artesanal utiliza grandes quantidades de água para lavar ou apenas em busca de ouro, muitas vezes com produtos químicos como mercúrio e cianeto.
Esses agentes tóxicos contaminam rios usados por milhares de pessoas para consumo e atividades domésticas.
O impacto ambiental é severo: rios antes limpos agora apresentam coloração turva marrom, e terras agrícolas foram devastadas. O Conselho de Cacau de Gana (COCOBOD) estima que 2% da área total de cultivo de cacau foi perdida para a mineração.
Além dos danos ambientais, a prática é economicamente atraente para muitos. Os operadores de Galamsey podem ganhar entre US$ 70 e US$ 100 por dia, um valor considerável em comparação à média de renda da região.
Cumplicidade governamental e avanço da galamsey
O problema não é novo, mas se intensificou com o aumento global dos preços do ouro, que atingiu picos históricos no final de 2024. Ao longo dos anos, acusações de conivência entre autoridades e mineradores ilegais têm emergido, ampliando a crise.
A Lei LI 2.462, aprovada em 2022 durante o governo Akufo-Addo, gerou forte oposição. A legislação permitiu a concessão de licenças de mineração em áreas ambientalmente sensíveis, incluindo reservas florestais protegidas.
Desde 2017, o número de licenças concedidas para mineração em pequena escalada de tiros aumentou, alcançando mais de 2.000 concessões até janeiro de 2025. Os críticos apontam que figuras ligadas ao partido do ex-presidente controlavam muitas dessas operações.
Um relatório vazado em 2023 pelo ex-ministro do Meio Ambiente, Kwabena Frimpong-Boateng, revelou a extensão da corrupção. Segundo o documento, membros do partido de Akufo-Addo estariam envolvidos diretamente no Galamsey e na interferência de ações contra mineradores ilegais.
A resposta limitada do governo
Mesmo diante das evidências, o governo de Akufo-Addo negou as acusações e lançou a “Operação Halt”, uma campanha militar para reprimir atividades ilegais em corpos d’água.
Apesar disso, a poluição continua. Em janeiro de 2025, uma estação de tratamento de água na região oeste foi fechada devido à contaminação grave do Rio Bonsa, afetando mais de 200 mil pessoas.
Novo governo, velhos desafios
Empossado em janeiro, o presidente John Mahama prometeu suportar as políticas contra a mineração ilegal. Ele defendeu a proibição de atividades em reservas florestais e perto de corpos d’água, além de cooperar com a Agência de Proteção Ambiental para limpar rios contaminados.
No entanto, Mahama não indicou que reverterá licenças já concedidas, destacando a importância económica da mineração em pequena escala. Ele sugeriu que o país poderia adotar tecnologias mais seguras, como ocorre no Canadá e na Austrália, para equilibrar a exploração com a proteção ambiental.
Os ativistas, no entanto, permanecem céticos. Vormawor critica a abordagem cautelosa do presidente e pede medidas drásticas, como a revogação da lei LI 2462 e das licenças vinculadas a ela.
“Estamos correndo contra o tempo”, alerta Ewurabena Yanyi-Akofur, da ONG WaterAid. “Sem mudanças imediatas, Gana pode ser obrigada a importar água até 2030.”
O legado de Mahama
Essa não é a primeira vez que Mahama enfrenta o problema. Durante o seu primeiro mandato, entre 2012 e 2016, o galamsey já causou preocupação.
Apesar de algumas ações, como a exclusão da mineração em reservas florestais, seu governo também foi criticado por falhas no controle da entrada de investidores estrangeiros, especialmente chineses, que investiram em práticas ilegais.
Agora, embora a maioria das operações ilegais seja comandada por ganeses, o desafio permanece gigante.
Um futuro incerto
Enquanto o país enfrenta os impactos do galamsey, os moradores locais sofrem as consequências. A água, um recurso básico, tornou-se escassa e perigosa para consumo. As terras agrícolas, fundamentais para a economia e segurança alimentar, continuam sendo destruídas.
Para ativistas como Vormawor, a luta está longe de terminar. “Não é apenas uma questão de mineração legal ou ilegal”, enfatiza ele. “É sobre responsabilidade. Não podemos permitir que o meio ambiente seja destruído na troca de ganhos rápidos. Ainda há tempo, mas precisamos agir agora.”
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